sábado, 8 de março de 2008

Camu-camu pode render dividendos para a Amazônia

Alta concentração de vitamina C é o motivo para exploração comercial. Araçá, araçá da água, araçari, sarão, azedinho ou camu-camu. Esses são os nomes comuns do Myrciaria Dubia, arbusto que produz um fruto cuja cor varia de púrpura avermelhada à púrpura escura quando maduro, com ocorrência em toda a Bacia Amazônia. Riquíssimo em vitamina C, o fruto consta na lista das futuras matérias-primas das indústrias de medicamentos, cosméticos, alimentos e bebidas. Empresas do Brasil, Estados Unidos, Japão e Comunidade Européia desejam comprar grandes quantidades de camu-camu, segundo o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) Kaoru Yuyama, que há dez anos investiga as possibilidades econômicas de plantio.
O potencial do camu-camu é como fonte de vitamina C. Cada 100 gramas do fruto fresco produz até 2,99 gramas da vitamina, 60 vezes superior à quantidade produzida pelo limão e cerca de 100 vezes mais do que a laranja. A vitamina é encontrada na polpa e na casca. Os ribeirinhos consomem o camu-camu in natura para combater gripes e doenças respiratórias. No estado silvestre pode ser encontrado apenas em áreas úmidas e quentes.
Yuyama diz que a pesquisa sobre o cultivo do camu-camu para produção em larga escala está adiantada. "O plantio tem viabilidade econômica." Há seis anos, o pesquisador realiza experiências em uma propriedade de seis hectares, em terra firme, nas proximidades de Manaus. Um das vantagens do cultivo em bosque, em relação às plantações nativas, é a da produção contínua, mais adequada às necessidades de abastecimento das indústrias. Nas áreas naturais, a produção é limitada pela enchente dos rios, época em que é coletado com o auxílio de canoas.
O plantio de camu-camu é apontado pelo pesquisador como um negócio promissor, a começar pela busca dos consumidores por novos sabores e medicamentos mais eficientes e menos agressivos. "Um comprador de São Paulo queria 600 toneladas, mas essa quantidade não existe hoje no mercado", explica o pesquisador. Segundo ele, só o cultivo de bosque pode atender a esta demanda, pois a produção do arbusto em estado silvestre é irregular.
Matéria prima
Para Yuyama, o plantio de camu-camu é uma oportunidade de negócio. O pesquisador adianta que o Inpa, por meio de parceria, pode oferecer a tecnologia que dispõe aos prováveis empreendedores. "Se aqui se instalasse uma agroindústria que utilizasse o camu-camu como matéria-prima, pequenos produtores, com incentivo, poderiam abastecê-la."
A necessidade de enriquecimento orgânico do solo é o principal entrave à disseminação do cultivo do arbusto por pequenos agricultores instalados em áreas de terra firme. Nas zonas de várzea, as plantas contam com os nutrientes transportados pelas águas. Yuyama adianta que, embora pobre em nutrientes, o solo amazônico é o mais adequado ao cultivo comercial. Áreas que não possuem as características da floresta tropical úmida diminuem a taxa de sobrevivência do arbusto. Em cada 100 mudas, só cinco crescem e produzem a contento.
A literatura registra que, em 1967, a empresa Nutritional Specialisties Inc., de Porto Rico, em parceria com o Banco de Fomento Agropecuário do Peru, produziu tabletes orgânicos de vitamina C com o camu-camu, mas não obteve sucesso. Para o cientista Wanders Flores, o produto foi lançado fora de época, uma vez que a explosão do consumo de vitaminas orgânicas ocorreu em 1970.
Em Manaus, o camu-camu está sendo usado na fabricação de sorvetes pela Naturale, há três anos. Um dos sócios da empresa, José Matos da Silva, atesta que o produto tem a aceitação imediata de consumidores. Ele explica, no entanto, que a maioria dos consumidores é fiel aos sabores que estão no mercado há mais tempo. "A popularização depende da divulgação maciça do teor de vitamina C que a fruta contém", sugere.



Como reconhecer a planta camu-camu

O camu-camu é um arbusto ou árvore de pequeno porte, que mede de quatro a seis metros de altura, sem tronco detectável. Isso quer dizer que seus galhos primários partem diretamente do solo, gerando poucos galhos secundários. Podemos associá-lo à imagem de um feixe que nasce do solo, espalhando-se nas pontas. As folhas são inteiras e pecioladas. O pecíolo - haste que sustenta a folha e a une diretamente ao ramo ou pé - mede de três a seis milímetros de comprimento por um milímetro de diâmetro. A lâmina da folha é lanceolada, como uma lança, em desenho oval, e mede de três a cinco centímetros de comprimento por um ou dois centímetros de largura. Já o fruto é esférico, mede de dois a três centímetros de diâmetro e pode ser utilizado na produção de doces, compotas e sorvetes .

Nenhum comentário:

Postar um comentário