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segunda-feira, 13 de abril de 2009

Banana


O uso de novas tecnologias no cultivo, a dieta para emagrecimento adotada no Japão e nos EUA e conjunturas de mercado explodem a demanda mundial, favorecendo os produtores brasileiros

Reza um ditado popular que a banana ingerida pela manhã é ouro, de tarde é prata e de noite mata. Cultivada há 8 mil anos, em 130 países, a fruta, que há séculos faz parte da alimentação diária de cerca de 400 milhões de pessoas, caiu no gosto de uma nova legião de adeptos: os japoneses.

Tudo começou quando Sumiko Watanabe, uma farmacêutica de Osaka, concebeu uma dieta baseada nos preceitos do ditado popular para ajudar a acelerar o metabolismo do marido Hitoshi Watanabe, que estava acima do peso. Hitoshi perdeu 37 quilos e popularizou a banana no mercado japonês. Conhecida como "morning banana diet", a receita virou febre no Japão e emigrou para os Estados Unidos, onde ganhou centenas de seguidores, principalmente em Nova York. Sua fórmula é simples. A pessoa deve comer de uma a quatro bananas no café da manhã e tomar uma xícara de água morna como acompanhamento. Mais nada. No almoço, a alimentação é livre (o que se come habitualmente, sem excessos, é claro). Um leve lanche deve ser preparado às 15 horas. O jantar, corriqueiro, deve ser servido antes das 20 horas e é muito importante que a pessoa vá para cama antes da meia-noite. A água é a única bebida permitida durante as refeições. As sobremesas são proibidas. Graças à receita de Sumiko, a banana - oito séculos depois de ter seu cultivo iniciado na Ásia - virou um hit internacional.

O sucesso da dieta foi tamanho que em algumas regiões houve desequilíbrio entre a oferta e a demanda no ano passado. No último verão japonês, as vendas de banana - produto em geral pouco comercializado nessa época - cresceram 80% naquele mercado, em comparação com igual período do ano anterior. A procura impulsionou, inclusive, a Dole do Japão a aumentar suas importações de bananas em 25%, e ainda assim o mercado continuou desabastecido. Em 2007 as importações japonesas somaram 970 mil toneladas, provenientes de Taiwan e das Filipinas. Estimativas mostram que no ano passado esse volume teria crescido 70%. É a primeira vez em quarenta anos que o país registra um crescimento tão acentuado no consumo. Como consequência, os preços da fruta subiram 20% no mercado local.

Depois de emagrecer 37 quilos, Hitoshi Watanabe escreveu o livro Morning banana diet, publicado em março de 2008, com mais de 800 mil exemplares vendidos e traduções publicadas na Coreia do Sul e em Taiwan. A dieta, que chegou aos Estados Unidos no segundo semestre do ano passado, aportou no Brasil no início deste ano. Nutricionistas, no entanto, contestam o regime. "Não há nada mágico sobre bananas", disse Bonnie Taub-Dix, nutricionista e porta-voz nacional da American Dietetic Association, para o jornal Daily News, de Nova York. "Poder comer o que quiser no almoço e no jantar, como propõe a dieta, não é algo bem-definido ou que tenha alguma base científica" complementa. Para a nutricionista, as dietas que permitem comer de tudo, complicam a vida de pessoas propensas a excessos. Os poderes nutricionais da banana, no entanto, são inegáveis. Conhecida como um dos mais completos alimentos, a fruta constitui uma inesgotável fonte de hidratos de carbono, potássio, sódio, fósforo, cloro, magnésio, enxofre, silício, cálcio, vitaminas A, B1, B2 e C. "A banana é uma excelente fonte de energia, mas não recomendo seu uso como medicamento", diz Milana Dan, nutricionista que está concluindo sua tese de doutorado em ciências dos alimentos, em que aponta os benefícios da farinha de banana verde. Trata-se de um trabalho que vem sendo realizado no laboratório de Química, Bioquímica e Biologia Molecular da Faculdade de Ciências da USP - Universidade de São Paulo há quatro anos e que comprova os efeitos da farinha de banana verde no controle glicêmico, no funcionamento intestinal e na saciedade. "Devido à alta quantidade de amido resistente que a banana verde possui, sua farinha pode ajudar no controle do açúcar no sangue", diz Milana, que deve concluir o projeto ainda este ano. O amido resistente age como fibra no organismo. Por esse motivo, a farinha também pode ser adicionada a muitos alimentos a fim de facilitar o funcionamento do intestino. A farinha é feita com banana verde porque nesse estágio é maior o grau de amido resistente que a fruta contém. "Conforme ela vai amadurecendo, a graduação de amido resistente diminui, pois ele começa a ser transformar em açúcar. Uma fruta madura não contém amido resistente", diz Milana.

As bananas usadas pela pesquisadora são colhidas no primeiro estágio de maturação ( excessivamente verdes), na região do Vale do Ribeira, principal polo produtor do país. Os bananicultores brasileiros, apesar de não sentirem diretamente os reflexos da dieta em seus negócios, permanecem atentos ao potencial de crescimento deste mercado. Segundo maior produtor mundial de bananas, o país se destaca como o mais importante consumidor da fruta, uma vez que os cerca de 6,7 milhões de toneladas produzidos anualmente são destinados em sua grande maioria ao mercado interno.

No município paulista de Registro, situado no Vale do Ribeira, os bananicultores realizaram uma verdadeira revolução no que diz respeito ao plantio, colheita e comercialização. "Evoluímos muito na última década. O manejo da plantação melhorou, o combate às doenças se tornou mais eficaz e o pós-colheita é mais moderno", avalia Agnaldo José de Oliveira, engenheiro agrônomo da CATI - Coordenadoria de Assistência Técnica Integral, órgão vinculado à Secretaria de Agricultura e Abastecimento do estado de São Paulo.

José de Paula Teixeira, produtor há 41 anos, participou intensamente dessa revolução. "No início, a banana, depois de colhida, era colocada no chão em pilhas. Hoje, temos o cabo de aço aéreo, que transporta a fruta da lavoura até o barracão com o máximo de cuidado, sem que um cacho encoste em outro para que as frutas não se machuquem", conta Teixeira.

Não parece, mas a banana é uma fruta muito sensível, assim como a bananeira, uma planta extremamente vulnerável às chuvas e ao vento. Trata-se de uma plantação que requer cuidados constantes. Os cachos de bananas nascem na parte superior de caules chamados pseudocaules. Após o nascimento, esses cachos levam cerca de 10 meses para ser colhidos. Depois da colheita, esse pseudocaule é cortado, dando origem, posteriormente, a um novo caule. O tempo de vida útil de uma bananeira é, em média, de 15 anos, mas existem plantas com até 40 anos que ainda são produtivas. As condições ideais para o cultivo da fruta são calor e umidade. "Cada planta necessita de 8 litros de água por dia e um quilo de adubo por ano para estar bem nutrida", diz Oliveira. Depois que os frutos estão formados, os produtores cobrem os cachos com sacos plásticos para evitar que a fruta sofra com adversidades climáticas ou ataques de pássaros. No caso da banana-prata são cutivados entre 1.200 e 1.300 pés por hectare. No caso da nanica, são 2.000 por

O QUE É QUE A BANANA TEM?

Uma banana contém entre 80 e 120 calorias, dependendo da variedade e do tamanho. É considerada um excelente alimento devido ao seu valor nutricional. Verde, é constituída de água e amido, e é por essa razão que seu sabor é adstringente. À medida que vai amadurecendo, o amido transforma-se em açúcares mais simples, como a glicose e a sacarose, que lhe dá sabor doce.

Outros nutrientes representativos da banana são o potássio, o magnésio, o ácido fólico e a vitamina B6. O potássio auxilia na regulação da tensão arterial, no equilíbrio dos fluidos do corpo e na contração muscular. Evita a ocorrência de cãibras em atividades físicas. Já no que diz respeito ao ácido fólico (também conhecido por vitamina B9), ele tem um papel relevante na gravidez, além de ser eficiente no combate à anemia e a doenças cardiovasculares.

Energética, fácil de consumir e de rápida digestão - menos de duas horas -, a fruta é recomendada para todas as idades. Para os esportistas, são indicadas por sua riqueza em glicídios (açúcares), vitaminas do grupo B, potássio e magnésio, elementos importantes para um bom desempenho muscular. A fruta pode ainda auxiliar na manutenção das defesas imunológicas.

Em uma área de 25 hectares, Teixeira colhe 2,5 mil caixas de 21 quilos por mês de uma lavoura de 50 mil pés de banana, distribuídos em 70% da variedade nanica e 30% da prata. Batico mantém cinco funcionários em sua propriedade. "Comecei a plantar banana-prata em 1998 porque percebi que o consumo crescia. Hoje, o Rio de Janeiro, por exemplo, consome mais prata que nanica", conta o produtor. Outra mudança recente foi o adensamento do plantio. Atualmente, as mudas de banana-nanica são cultivadas com uma distância de 2,5 metros entre os pés, em comparação com os 3 metros anteriores. "O adensamento evita a proliferação de mato no bananal", diz. Como o mercado está cada vez mais exigente, os cuidados no pós-colheita também aumentaram. Teixeira resolveu terceirizar esse serviço. "Entrego a produção ao comprador no barracão e ele é quem lava, seleciona, embala e transporta a fruta." Com isso, Teixeira pode se concentrar somente na parte agrícola e melhorar os indicadores de sua plantação.

Ao longo da última década, as frutas brasileiras se tornaram mais bonitas e o pós-colheita é realizado hoje com o máximo de cuidado. "A casca da fruta deve ser preservada ao máximo, pois o mercado exige a fruta intacta e qualquer marca na banana verde fica preta quando ela amadurece", diz Sergio José Haiek, produtor da terceira geração de uma família que se dedica há décadas à melhoria da qualidade de suas plantações e tem tradição na exportação da fruta. Com duas propriedades, que somam 200 hectares, destinadas ao plantio de 220 mil pés de banana, sendo 85% nanica e 15% prata, Haiek cuida pessoalmente do pós-colheita e trabalha diariamente na lavagem, seleção e embalagem de suas frutas junto com os 50 funcionários que mantém. O cuidado reflete a preocupação do produtor com o aspecto de sua safra. "Temos uma longa história de exportação para o Uruguai e Argentina. E isso se deve à qualidade de nossa produção. Esse é nosso maior patrimônio", diz. A família Haiek, na figura de Jorge Haiek, avô de Sérgio, iniciou as vendas para o Uruguai há 51 anos. Jamil Haiek, pai de Sérgio, firmou um contrato com a Argentina 16 anos atrás. "A minha missão, como terceira geração envolvida nessa atividade, é manter a qualidade de nossos produtos", diz Sérgio. Da colheita anual de 270 mil caixas de 21 quilos de banana, 95% segue para o mercado externo, em especial para os clientes Ciro Gentile, do Uruguai, e Bananamerica, da Argentina. "São parcerias construídas com base na confiança e honestidade das empresas envolvidas", diz Sérgio, que diariamente embarca uma carga de mil caixas para o Uruguai. Os contratos no mercado externo garantem ao produtor segurança quanto ao pagamento, tranquilidade em relação à venda de eventuais excedentes de produção e lucro 16% maior que o pago pelos clientes do mercado interno. Em meados de março, a caixa de 21 quilos da banana-nanica era cotada entre R$ 5 e R$ 6 no mercado interno. Sérgio recebe R$ 7 por caixa comercializada aos vizinhos Uruguai e Argentina. Já a banana-prata era comercializada entre R$ 18 e R$ 20 no mercado interno no mesmo período.

Data Edição: 13/04/09
Fonte: Revista Globo Rural

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