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terça-feira, 12 de outubro de 2010

Alimentação favorece a longevidade na cidade de Maués

11 de outubro de 2010 às 16:51
Jornal Pequeno Online
Pesquisador diz que o consumo de guaraná em pó explica a quantidade de octogenários ativos naquela população

IARA BIDERMAN

Maués, no Estado do Amazonas, tem cerca de 50 mil habitantes. É uma típica cidade da floresta, com a população ribeirinha vivendo principalmente da agricultura e do extrativismo.

Mas Maués chamou a atenção do INSS. O grande número de beneficiários com mais de 70 anos (o dobro dos beneficiários de Manaus) levou o órgão a investigar se os aposentados estavam mesmo vivos. Estavam, e muito bem, obrigado.

Os longevos da cidade também despertaram o interesse do gerontólgo Euler Ribeiro, da Universidade Estadual do Amazonas.

Há mais de uma década estudando o envelhecimento dos amazonenses, ele constatou que, em Maués, a população com mais de 80 anos era duas vezes maior do que nas outras cidades do Estado. E lá a expectativa de vida, de 75 a 80 anos, superava os 73 da média nacional.

Além de viverem mais, os idosos de Maués apresentam ótimas condições de saúde.

A incidência de doenças crônicas, como diabetes, hipertensão, reumatismo e demências é até 60% menor do que na capital.

Entre outras coisas, o gerontólogo espantou-se com o número de octogenários com filhos pequenos e memória afiada, tanto para as histórias do passado quanto para os fatos recentes.

“Além do fator genético, o exercício físico e o baixo nível de estresse favorecem a longevidade. Mas acredito que o segredo de Maués é a alimentação”, diz Ribeiro.

A bióloga e geneticista Ivana Mânica da Cruz, da UFSM (Universidade Federal de Santa Maria, no Rio Grande do Sul), conta que uma análise dos alimentos típicos da dieta amazônica mostra que os compostos nutricionais são muito parecidos com os da dieta mediterrânea.

“Estudos mostram que dietas como as do Mediterrâneo e da Ásia aumentam a expectativa de vida porque diminuem o risco de doenças crônicas. Mas não precisamos importar essas dietas porque temos aqui alimentos com as mesmas propriedades”, afirma Euler.

A dieta amazônica é semelhante a essas em vários aspectos: o consumo de peixes e vegetais é alto, o de gordura animal é baixo. E, no caso de Maués, tem uma característica especial: eles tomam muito guaraná em pó. Para Ribeiro, o guaraná substitui, com louvor, o vinho e o chá verde das dietas saudáveis mais famosas.

Nos estudos feitos no laboratório da UFSM, compostos do guaraná mostram ação semelhante à do resveratrol, substância presente no vinho que ativa os genes que favorecem a longevidade.

O fruto amazônico também contém antioxidantes encontrados no chá verde, como as catequinas. E ajuda a combater a obesidade, porque acelera o metabolismo.

“Estudo mostra que ingerir guaraná aumenta em até 200 calorias o gasto energético diário”, diz Ivana da Cruz.

A hipótese para a grande fertilidade dos homens mais velhos de Maués também é o consumo de guaraná.

“Além de ajudar a ereção, o guaraná aumenta a quantidade e a qualidade do sêmen. Mas ainda estamos avaliando essa hipótese em laboratório”, diz a bióloga.

CURIOSIDADE SOBRE O GUARANÁ DA AMAZÔNIA

O QUE É O GUARANÁ?

O guaraná foi cultivado pelos índios, os primeiros habitantes da Amazônia. Acreditam os botânicos que mesmos aquelas plantas achadas em floresta densa, foram originadas de um cultivo indígena no passado.

Guaraná é um cipó lenhoso que, em área de floresta ou capoeira, cresce sobre as árvores atingindo até 10 m de altura. Entretanto quando cultivado em áreas abertas tem porte de arbusto em forma moita crescendo no máximo até 2 ou 3 m de altura.

Seu cultivo data da época pré-colombiana, quando era praticado por diversas tribos indígenas, entre as quais Maués e Andiras, localizadas no “baixo Amazonas”.

Possui folhas composta de cinco folíolos, as flores surgem em panículas amarelo-claro, nos meses mais secos do ano, com amadurecimento dos frutos dois ou três meses depois. Os frutos quando maduros, apresentam a coloração vermelha e em menores proporções, alaranjadas e amarelas, abrindo-se parcialmente, deixando à mostra as sementes. Quando maduro se abre parcialmente deixando aparecer 1 a 3 sementes castanha-escuras, com a metade inferior recoberta por um espesso arilo branco.Neste estágio deve ser feita a colheita dos frutos, para que as cápsulas (casca) não abram-se totalmente, evitando-se, assim, a queda das sementes.

COMO É PRODUZIDO?

O guaraná comercial é produzido apenas das sementes, sendo as outras partes do fruto descartadas. A colheita é manual, retirando-se os frutos maduros (abertos) ou os cachos. Após a colheita, os frutos devem ser amontoados num galpão por dois a três dias, para uma leve fermentação. Em seguida, são despolpados, manualmente ou por meio de despolpadeiras, secados ao ar livre ou com auxílio de secador solar.

Os grãos maiores são separados dos menores, utilizando-se peneiras, visando uniformizar a torração. Esta deve ser processada, em seguida, preferencialmente em fornos de barro submetidos a fogo brando por quatro a cinco horas até atingir em torno de 9% de umidade. Temos, assim, o grão de guaraná torrado, conhecido como guaraná em rama.

QUAIS AS FORMAS DISPONÍVEIS DE GUARANÁ?

• Guaraná em rama

É o grão torrado, a forma mais utilizada pelos agricultores amazonenses, para a venda à cooperativas, indústrias ou intermediários.

• Guaraná em bastão

Após torrado, o grão é triturado, pilado e misturado com a água, formando uma pasta e moldada em forma de bastão.

• Guaraná em pó

O grão torrado, ao ser moído, fornece o guaraná em pó. Esta forma é pouco usada pelos agricultores, porém é uma das mais correntes no comércio varejista.

• Guaraná Xarope

Em forma de xaropes e essências para refrigerantes é exclusivo de indústrias de considerável tecnologia e nível de capitalização.

QUAIS AS PROPRIEDADES TERAPÊUTICAS?

O médico Othon Machado divulgou os resultados sobre as propriedades medicinais do guaraná: antitérmico, estimulante, analgésico e antigripal. Estudos realizados em 1965 por Ritchei, mostram que a teofilina, a teobromina e a cafeína atuam sobre o sistema cardiovascular, o sistema nervoso central, músculos lisos, esquelético e rins.

A Dra. Ana Aslan, geriatra internacionalmente reconhecida, quando de sua visita ao Brasil, em 1972, declarou ser o guaraná “o geronvital brasileiro”.

Scavone, Panizza e Cristodoulov, pesquisadores do Instituto de Botânica da USP, comprovaram que o guaraná em pó substitui com vantagem o Ginseng, que é uma droga obtida das raízes da planta do mesmo nome, utilizada como estimulante psicomotor e afrodisíaco, importada a elevados custos da Coréia e Estados Unidos.


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